O Elefante no Meio da Sala

O primeiro solo da coreógrafa e bailarina Vânia Doutel Vaz, está em residência artistica no Espaço do Tempo de 4 a 10 de abril. O espetáculo é produzido pelo Alkantara e tem estreia marcada em novembro de 2022 no Teatro do Bairro Alto (Lisboa) no âmbito do Alkantara Festival 2022.

Com um treino em dança de 13 anos e uma carreira de 18 anos, aos 36 deparo-me com o meu corpo gritante. Resolvi escutá-lo. Foi inevitável. Este corpo está revoltado. Até aqui houve sempre quem lhe dissesse o que fazer, como o fazer, como e onde deve estar. Agora que lhe foi dada a oportunidade de falar, tem imposições. Esta peça surge da constatação de que este corpo tem coisas a dizer para além de mim.

Nesta conversa, será que me pode dizer o que quer? Como se prefere mover? Quem pensa que é? Se sabe que tem deveres ou como se quer expressar? Posso deixar este corpo... ser? E para onde vou eu? A dissociação entre a pessoa e o seu corpo tem como centro a observação. Passo a ser o meu próprio público e questiono o lugar e necessidade de um outro público. Observar, ser observada, o que pode gerar e o que pode ser gerado dessa constante alternância.

A manipulação inerente quando uma pessoa se permite ser observada. O empoderamento quando se propõe a observar. A vulnerabilidade quando se dá conta que está a ser observada. E a mistura disto tudo. A observação e relação com o público, assim como a do público comigo e a do público entre si, são reflexões determinantes e impulsionadoras neste trabalho.

Qual o impacto ao se ser observada na formação de identidade e na atribuição de valor, tanto na existência artística como pessoal? Nesta dança de quem observa quem, o quê e quando, soltam-se ideias de privilégio, exclusividade, acesso e poder na construção e partilha de uma experiência.

Vânia Doutel Vaz (janeiro 2022)

Conceito, Criação e Performance Vânia Doutel Vaz Vídeo Daniela Stubbs Levi e Vânia Doutel Vaz Colaboradoras nas residências Josefa Pereira, Luara Learth, Piny e Nina Botkay Figurino Nina Botkay e Vânia Doutel Vaz Cenografia, Luz e Direção Técnica Letícia Skrycky Música a designar Produção Alkantara Coprodução Teatro do Bairro Alto Apoio Programa de residência “La Fabrique Chaillot” – Chaillot- Théâtre National de la Danse (Paris) Residências Artísticas Alkantara, Casa da Dança, Estúdios Victor Córdon/OPART Agradecimentos Rui Horta, Josseline Black, Ana Trincão, Giovanni Lourenço