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AL KANTARA significa “a ponte” em Árabe. Depois de cinco anos de investimento e trabalho de fundo no contexto da rede Danse Bassin Méditerranée, Danças na Cidade decidiu criar um festival dedicado exclusivamente à região do Mediterrâneo, com o intuito de construir pontes entre as comunidades de dança de Portugal e dos seus países vizinhos.

No Mediterrâneo juntam-se três continentes e encontram-se várias grandes civilizações e religiões. É uma região com uma longa e riquíssima história, mas também o lugar onde se estão a disputar alguns dos mais tenazes conflitos da contemporaneidade: o conflito na ex-Jugoslávia, a divisão do Chipre, a ocupação da Palestina e a intifada, a guerra civil latente na Argélia, a rebelião do Polisario em Marrocos e a explosão do terrorismo. Depois do fim da Guerra Fria, o Mediterrâneo tornou-se um ponto nevrálgico, onde as profundas transformações económicas, políticas e culturais causadas pela globalização se manifestam de maneira extremamente intensa.

Influenciado pela intensidade destes conflitos e pelas análises simplistas e demagógicas que dividem o mundo em bons e maus, o Ocidente e a civilização Muçulmana parecem estar de costas voltadas. A falta de conhecimento mútuo e a desconfiança arriscam fazer desta região antiga o primeiro lugar no mundo onde o “choque de civilizações” se torna realidade. Seria irrealista pensar que o diálogo entre povos e culturas pudesse resolver todos os problemas que estão na origem deste choque, mas não deixa de ser um passo necessário para podermos pensar e repensar a região no contexto da globalização.

Contudo, não se trata de substituir o conceito conflituoso do “choque de civilizações” pelo seu pendente “diálogo de civilizações”. Como diz o relatório do Grupo Consultivo de Alto Nível constituído por iniciativa do Presidente da Comissão Europeia Romano Prodi [1]: “O Diálogo de Civilizações (...) infelizmente segue a mesma lógica, confirmando o ponto de vista de que os problemas precisam de ser resolvidos entre ‘blocos’, divididos por diferenças quase ontológicas. (...) Demarcar “civilizações” dentro do fluxo histórico não é aceitável, sobretudo no Mediterrâneo, onde todos os pretendentes ao título têm interagido de maneira tão insistente e complexa e por períodos tão longos, que se torna absolutamente impossível separá-los sem os reduzir a caricaturas.”

AL KANTARA quer demonstrar que esta região não é tanto o berço de civilizações distintas e hostis, mas antes um mosaico de culturas interdependentes, com uma diversidade excepcional, mas pouco conhecida.

AL KANTARA foca-se na dança contemporânea e na performance. Apesar da sua situação periférica, a dança tem sido, em muitos países do Mediterrâneo, ponta de lança no desenvolvimento das artes contemporâneas. Em muitos lugares, o bailarino é um verdadeiro revolucionário, interrogando no seu trabalho tabus e questões sensíveis como a representação do corpo, a emancipação da mulher, a sexualidade, a tradição e o modernismo, o interculturalismo e o neocolonialismo, a liberdade de expressão...


[1] “Dialogue Between Peoples and Cultures in the Euro-Mediterranean Area”, Euromed Report Nº68, 2 Dec 2003 http://europa.eu.int/comm/external_relations/euromed/publication.htm